Nestes 10 anos que ficou sem lançar um disco de inéditas, o icônico artista britânico mostrou sua relevância para a cultura pop
Se nem parece que faz tanto tempo assim que David Bowie anda sumido é porque a importância de sua obra e a força de sua figura camaleônica e visionária nunca deixaram de marcar presença na cultura pop. Nesses 10 anos sem lançar um disco com faixas inéditas, Bowie fez muita coisa. A mais importante, sem dúvida, foi cuidar da saúde. Um problema cardíaco o fez interromper, em 2004, a turnê de promoção de Reality, disco lançado um ano antes. Cirurgia feita, coração em ordem — o casamento com Iman segue no curso apaixonado, e a filhinha deles, Alexandria, já é quase uma adolescente de 13 anos —, e Bowie desacelerou o intenso ritmo de produção que mantinha desde o final dos anos 1960 nos estúdios, nos palcos e diante das câmeras, como persona pública referencial da vanguarda na música, na moda e no comportamento que nunca deixou de ser.
Bowie foi um dos primeiros artistas a vislumbrar o potencial da internet. Desde o princípio da era virtual, e diferentemente de muitos de seus colegas, ele soube como capitalizar o compartilhamento de sua obra na rede. Atento às novidades, apontou de imediato novos talentos, como a banda canadense Arcade Fire (com quem fez uma épica versão ao vivo de Wake Up).Cantou com Scarlett Jonhasson no disco de estreia da atriz gracinha, com covers de Tom Waits, e matou a saudade dos palcos ao lado de amigos (foi antológica sua versão para Arnold Layne, do Pink Floyd, num concerto de David Gilmour) e em eventos especiais.
Em 2009, Bowie viu seu filho, Duncan Jones (um dia conhecido como Zowie Bowie), ser celebrado como grande cineasta, apresentando a ficção científica Lunar. E nesse mesmo ano, Space Oddity, canção que foi trilha sonora da chegada do homem à Lua, embalou as comemorações dos 40 anos da façanha. Agora, em 2012, Bowie foi devidamente celebrado em razão dos 40 anos de lançamento de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, um de seus discos mais cultuados, que ganhou edição especial e inspirou homenagens como uma espetacular série de documentários da BBC sobre o autor, o impacto do álbum em seu tempo e o legado de ambos.
Nesses 10 anos, foram lançados ainda dois ótimos discos: A Reality Tour (2010), registro ao vivo de 2003, e Toy (2011) – disponibilizado apenas na internet, o álbum engavetado em 2001 traz regravações de faixas suas dos anos 1960 e composições novas apresentadas posteriormente em outras versões. Nessa última década, Bowie foi permanentemente celebrado. Heroes, faixa do disco homônima de 1977, por exemplo, serviu recentemente de motor dramático para o filme cult juvenil As Vantagens de Ser Invisível e, entre suas inúmeras novas releituras, ganhou uma do seriado Glee – que também faz uma de Fashion, de Scary Monsters (1980).
Então, Bowie achou que era hora de voltar plenamente à ativa. Where Are we Now?, faixa que antecipa o esperado novo álbum, The Next Day, que sai em 8 de março agora, mostra em seu videoclipe um tributo a Berlim, cidade onde ele viveu e produziu discos emblemáticos, e renova uma parceria com o guitarrista e produtor Tony Visconti, que vem desde 1969.Where Are We Now? está à altura dos momentos de maior sensibilidade e inspiração de Bowie.
Quem tem de cuidar do coração agora são seus fãs, diante da imensa expectativa para conhecer o restante da obra que esse gigante adormecido preparou na surdina nesse tempo todo em que apenas pareceu estar fora do ar.
Marcelo Perrone
Zero Hora
Abraços.
By Roehrs.
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