terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Temperos de Pere Lachaise

A primeira vez que escutei The Doors foi em 1997. Tarde demais, eu diria; mas antes eu escutava outras coisas. Na época, um colega de trabalho, durante o intervalo do horário de almoço, disse que iria me apresentar uma banda que iria mudar minha vida. E olha que isso já tinha acontecido 7 anos antes, com o Nirvana e o seu Nevermind. A Light My Fire foi a música escolhida por ele para me apresentar Jim Morrison e banda. E o resto é o resto.

Escutei a música com a sensação que, claro, já a havia escutado 1 milhão de vezes. Verdade ou não, é aquilo que acontece com qualquer música que, realmente, consegue superar a barreira do pop instantâneo (ou, nos tempos de hoje, um sertanejo pop). E outras músicas vieram em seguida... Riders on the Storm, L.A.Woman... etc, etc. E logo eu iria comprar todos os CD´s e alguns materiais da banda. DVD´s (poucos). Livros. E assistir ao filme maluco do Oliver Stone era um programa clássico, pelo menos uma vez por mês.

Como tudo na vida, o The Doors também passou. Passei a escutar com menos frequência, não por escolha musical ou por desgosto, mas sim por opção. A escuta sempre foi eventual. Até porque não são músicas de escutar no churrasco de domingo com a família... e na medida que a vida segue seu curso, escutar The Doors passou a ser uma atividade isolada e reclusa, quase que individual, se não fosse pela companhia de um Red ou um Jack. E, claro, eventualmente na companhia de amigos. 

Em 2008, tivemos uma redenção com um show do Ray e Robbie em Porto Alegre, se chamando de The Doors. Baita show, um dos melhores que já fui, com certeza. Pepsi on Stage lotado, cultivando e celebrando músicas eternas. O post deste show já está aqui no blog. As minhas 2 horas no ano de 1967 foram incríveis. Show que não esperávamos, não imaginávamos e nunca sonhamos. Estes parecem ser os melhores. Como foi o do Roger Waters e seu The Wall (2012). Como foi o da banda Chiado no Factory em São Leopoldo (2012).

Jim nunca foi exemplo pra ninguém, reconheço. E acho que ele nem queria isso. Ele devia saber disso. Os jovens também deveriam saber disso. Minha admiração é pela música e o que vem carregado nela (postura, estilo); nada mais. Era outra época, outro local; nem é justo comparar com nada. Mas para uma banda que durou menos de 5 anos, é preciso reconhecer que a contribuição para a história da música é impressionante. E as músicas (ou boa parte delas) são eternas.

E quis o destino que, em 2013, em Paris, eu fosse visitar Jim Morrison. Antes que ninguém se assuste, eu não encontrei Jim caminhando na Rive Gauche. Foi no cemitério mesmo. Depois de alguns dias muito intensos na cidade (e maravilhosos), resolvemos investir uma manhã para conhecer os bairros Marais e Bastille. Pere Lachaise era ali perto e então: por que não ir ? Depois de algum passeio por perto, tomamos um metrô rumo ao cemitério. Confesso que relutei (em pensamento) em ir... mas as coisas aconteceram muito naturalmente.





A estação fica bem em frente ao cemitério. Chovia de forma muito fina. Paris já estava cinza há 12 dias, aliás.  Ao sair da estação, camisas do Jim e do The Doors balançam ao leve vento na banca de revistas no meio da rua. Não desistimos e rumamos junto ao cemitério. Depois de 10 minutos de caminhada, já estávamos dentro do Pere Lachaise. Uma placa de tamanho médio indica a localização das mais de 100 personalidades (?) enterradas (?) por lá. Fomos direto no número do túmulo do Jim e rumamos em plena chuva até o local.



Claro, nos perdemos dentro do cemitério. Apenas ao som de corvos e do balançar das folhas secas de inverno, tentamos, sem sucesso, achar o túmulo do Lagarto-Rei. Quase ninguém no cemitério. Um enterro ocorria ali por perto e passamos meio de longe. Quase sem querer, voltamos para uma outra entrada do cemitério, onde podemos analisar com mais calma outra placa de identificação dos túmulos. E voltamos ao cemitério para tentar achar Jim. Depois de uns 15 minutos de caminhada e chuva diminuindo de intensidade, finalmente achamos.





Não sei bem expressar o que senti. Lembro-me de largar a mão da Desi e apertar o passo, isoladamente, quando as lápides pixadas davam indícios de que chegamos onde queríamos (ou eu queria). Uma grade de proteção não permite chegar nem muito perto do túmulo, que fica no meio de outros, sem muito destaque. Dá para olhar só de lado. Mas está lá, escrito...: James Douglas Morrison. Confesso que eu esperava algo melhor. O busto se foi; onde hoje restam apenas algumas rosas e garrafas de bebida. E corvos. Muitos corvos. Talvez inspirações de Oscar Wilde, que um pouco mais acima do cemitério também descansa sob o céu da cidade-luz.

E claro, sempre vou lembrar de ter vivido 1 hora no ano de 1971.

Saludos.

By Alberton

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