quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Temperos da Viagem do Prata

Nem sempre paramos para pensar o que uma simples viagem provoca em nossas vidas. No estilo de vida. Nos gostos. Nas escolhas. Na formação cultural.
Jamais imaginei que uma viagem como a que fiz em 2008 mudaria meu gosto musical por inteiro. Não no sentido de excluir o passado (The Doors; Pink Floyd; Nirvana; PDS), mas sim de incluir algo novo que sempre (mesmo sem eu saber) esteve prestes a despertar. Talvez a viagem tenha sido programada pelos Deuses da música. Vai saber.
A viagem começou numa brincadeira e terminou numa aventura. Foram 5 dias cortando um pequeno trecho da América Latina, cruzando Uruguai e Argentina. No caminho: Jaguarão, Rio Branco, Treinta Y Tres, Montevideo, Colônia Del Sacramento e Buenos Aires. Quase tudo de carro, um curto trecho de barco e muito táxi. E vice-versa no retorno.
Mais de 3.000 km rodados e remados; e quase 2.000 dias depois, me dou conta de que o Rock Latino me acertou por inteiro. O Rock em Castellano, como eles chamam. Uma pena que o Brasil ainda não tenha se aberto para isso. Mas tudo bem, cada um seu lugar, porém perdendo uma oportunidade de compartilhar riquezas.
E pensar que tudo começou na foto abaixo. As primeiras pérolas por pura recomendação da vendedora, extremamente atenciosa em nos atender. Achamos até PARALAMAS em espanhol (que mais tarde seriam Hey Na Na e 9 Lunnas - espetacular...). Depois de muitas conversas e alguns clássicos (FITO PAEZ e SODA STEREO) e apostas, eu estava contaminado (sem saber) com o vício saudável do Rock. Só que um Rock cantado em espanhol. E isso, impressionantemente, era novidade para mim.

Al “Vicente” Pacino também se contaminou. De leve, mas até hoje não largou o vício musical. Gosta tanto quanto eu. Luca “Renato” Brasi nem tanto. Mas talvez falte apresentação. Uma introdução mais contextualizada. Falta um pouco mais de atenção de minha parte neste sentido. E romper a barreira do espanhol com meu compadre. Um dia consigo.
As duas grandes maravilhas da primeira viagem foram SODA STEREO e ANDRÉS CALAMARO. Gustavo Cerati (que Deus ajude em sua recuperação, embora saiba da dificuldade...) e sua turma arrebentaram na década de 80 e 90. Foram a maior banda latina, ou pelo menos estão entre as maiores. E finalmente estávamos com boa parte da coleção em nossas gavetas de CD´s. Finalmente.
Já Andrés, ah, o ANDRÉS: versátil, roqueiro, espetacular. Uma aposta (que não era aposta – o cara tem mais de 20 CD´s) se confirmou positivamente. Hoje não há churrasco ou festa que não combine com CALAMARO. E ele ainda acredita que Elvis está vivo.  Melhor impossível.
Ainda procuro entender o que me impressiona no Rock Latino. Seria a esquerda política raivosa ? a língua ? os trocadilhos humorados ? as guitarras com timbres latinos ? o poder militar ? os conflitos políticos ? a desigualdade social extremada ? a capacidade dos artistas em enxergar (e valorizar) coisas de sua terra ? o descaso (de leve) com o Brasil ? ou tudo isso junto ?
Pois bem, 5 anos depois e outras viagens para Uruguai, Argentina e Chile no currículo, tanto a trabalho, quanto a turismo; eu pude desbravar novos caminhos e aprofundar estradas já percorridas. Já estou contando os dias para a 3ª viagem ao Chile em outubro. Serão mais 9 dias para conhecer novos rumos e novas perspectivas. Do outro lado da cordilheira. De frente para o Pacífico. Onde tudo é diferente do Atlântico, podem acreditar.
Alguns caminhos foram descobertos. A irreverência e energia do SUMO, para mim uma espécie de De Falla argentino. Só que melhor, com todo o respeito. Escutem “Heroin” – é demais e arrepiante.  Aprendi com FITO PAEZ. Muito mais do que a apresentação formal que Herbet fez ao Brasil em 1995 (Vamo Bate Lata, Trac-Trac) e pouca gente deu bola.  Escutem “Sasha, Sissí e El Circulo de Baba”. Combina com um vinho.
As surpresas foram várias. ANDRÉS CALAMARO é empolgante. Escutem “El Pasodoble de los Amigos Ausentes” e “El Cantante”. Demais. Já IMIGRANTES é uma banda inocente. Tão inocente que chega a parecer uma banda inglesa. Só que cantando em espanhol. Escutem “Uma Chica de Ayer”. Nem todos sabem bailar.
LOS BUNKERS é a expressão chilena da atualidade. Meio Rock Inglês, parecido com IMIGRANTES. Mas com alguma identidade. Guitarras nervosas e juvenis. Escutem “Ven Aquí”. Bom para deixar tocar. Falando em Chile, LOS PRISIONEIROS é o inverso. Raiva. Tristeza e Alegria. Trocadilhos. Luta contra a repressão. A banda que fez coro contra Pinochet. E isso num país militar não é pouco. A maior banda chilena de todos os tempos. Escutem “La Voz de Los 80” e “Estrechez de Corazón”. A versatilidade é a alma desta banda. Certamente a forma de sobreviver num Chile enraizado de militares na década de 80.
SODA STEREO é um capítulo a parte. A banda “de música ligera” empolga com sua enormidade de hits. Os DVDS “Me Verás Volver” e “El Ultimo Concierto” empolgam e emocionam. Escutem “Tratame Suavemente”. Minha preferida.
E pensar que tudo começou numa mera e despretenciosa Viagem do Prata. Talvez ainda faremos um encontro de nossa confraria numa gira Latino America. Talvez. Talvez. Com um bom bife de Chorizo. E um Malbec aquecendo nossos corações (e uma Quilmes para o Brasi). Ao som de GARDEL cantando “Por una Cabeza”. Talvez.
By Alberton

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